Ouvir professores e alunos premiados na última edição da
Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, em 2008, dá uma dimensão do
aprendizado proporcionado pela experiência e mostra que vale a pena participar
do concurso, cujas inscrições foram prorrogadas até o dia 7 de junho. A
Olimpíada é uma iniciativa do Ministério da Educação, em parceria com a
Fundação Itaú Social, com a coordenação técnica do Cenpec. Além da premiação de
textos produzidos por alunos de escolas públicas, também inclui ações de
formação, presencial e a distância.
Para Vanicléia Rebelo, de Tamboara (PR),
professora de Mariane Cheli, uma das vencedoras na categoria artigos de
opinião, participar do concurso foi uma experiência inesquecível. "Até
hoje eu me emociono quando lembro de tudo o que aconteceu. Pra mim, foi a maior
conquista que eu tive na minha vida pessoal e profissional", considera
ela, que acumula 15 anos na carreira. Ter uma aluna entre as finalistas da
premiação possibilitou a Vanicléia ir a São Paulo e a Brasília, ocasiões em que
teve a oportunidade de conhecer professores e alunos de todo o País. "Eu
até me esqueço do prêmio material que a gente ganhou [computador e impressora
para os alunos e professores vencedores]. Eu sempre me lembro mais dessa outra
parte: de conhecer outros lugares, outras pessoas, viver aquela emoção... Foi
muito bom". Além da oportunidade de vivenciar tudo isso, a participação na
Olimpíada foi um valioso aprendizado profissional. Vanicléia afirma que o
material recebido pela escola e as oficinas das quais participou para o
trabalho com gêneros textuais contribuíram muito para o aprimoramento da sua
prática em sala de aula.
O material, aliás, é um dos pontos altos
da Olimpíada. O da segunda edição está sendo distribuído para todas as escolas
do País (em 2008, foi enviado apenas às escolas inscritas). É composto por um
Caderno de Orientação do Professor, uma Coletânea de textos e um CD-ROM, cujo
conteúdo pode ser ouvido, impresso ou apresentado em datashow. Na opinião da
professora Maria de Fátima Monte, de Cruzeiro do Sul (AC), que também teve um
de seus alunos vencedor na categoria artigo de opinião (Abraão Lima), o
material facilita muito o trabalho docente. "Considero-o ótimo, pela
dinâmica e praticidade das seqüências didáticas, prontas para serem aplicadas.
É só seguir cada passo a risca ou adaptá-la conforme sua necessidade, recurso e
tempo disponíveis", afirma. "O material é maravilhoso e super fácil
de usar. Trabalho até hoje com ele, não somente a parte sobre Memória como as
outras também", concorda outra professora semifinalista em 2008, Rose
Narlê Oliveira Silva, de Xique-Xique (BA). "Também acesso bastante a
comunidade [virtual] da Olimpíada em busca de coisas novas", complementa.
Os professores participantes relatam ainda
que, para os alunos, a leitura e escrita por meio dos gêneros favorece o
aprendizado. "Em sala os alunos produzem os textos de acordo com a
realidade em que vivem, facilitando muito a apropriação dos conceitos, por
escreverem a partir do universo deles", pensa Rose. "Os alunos
absorvem mais rápido, acredito. Eles se envolvem mais com a aula e se
desenvolvem muito melhor", relata a professora Lílian Cristina da Silva,
de Junqueiro (AL). Ter um aluno entre os semifinalistas ou finalistas também
gera uma grande repercussão na escola e até no município, funcionando como
estímulo para que cada vez mais estudantes participem. "Depois de ter
participado da Olimpíada, uma pergunta constante dos novos alunos é ‘a senhora
foi a professora que venceu a Olimpíada junto com o Abraão?'. Esse fato
motiva-os a participarem, e também a ver a escrita de textos com outros olhos e
não mais como um bicho de sete cabeças", conta Maria de Fátima.
"Todos os alunos da escola agora querem participar. Eles estão mais atentos
nas aulas, mais participativos e os professores de todas as matérias sentem
isso", relata Daniela Fornel Teles, outra professora semifinalista.
Chave de ouro
Vanicléia Rebelo fala com um
misto de orgulho e emoção sobre a ex-aluna, Mariane. A história de vida da
menina comoveu até o ministro da Educação, Fernando Haddad, que a contou
durante a cerimônia de premiação na capital federal. "Quando ele [o
ministro] contou a minha história, pra mim já foi um prêmio. Todo mundo aplaudiu
e depois da cerimônia o pessoal me procurou, tirou foto, me entrevistou... Foi
muito bacana", conta. Filha de um cortador de cana com uma dona-de-casa,
Mariane trabalhava nove horas por dia como costureira em uma fábrica de jeans e
estudava à noite. "Era uma rotina muito puxada", lembra. Para
escrever o artigo que a sagrou vencedora em Brasília, inspirou-se no pai.
Intitulado "Cavaleiros da cana versus mecanização", o texto aborda o
drama do desemprego que ronda os cortadores de cana, ameaçados pela mecanização
da lavoura. O reconhecimento e a premiação na Olimpíada lhe trouxeram mais do
que satisfação. Sua história apareceu no noticiário local e chamou a atenção
dos donos de uma empresa da cidade, que lhe ofereceram um emprego melhor, como
secretária. Sua dedicação aos estudos permitiu que ela obtivesse um bom
desempenho no Enem, especialmente na redação, resultado que lhe possibilitou
obter uma bolsa de estudos pelo Prouni para cursar Enfermagem em uma faculdade
em Paranavaí, cidade vizinha. "Depois que eu participei, minha vida mudou
completamente. Agora faço faculdade e tenho um serviço bem melhor, onde eles me
valorizam. Fechei com chave de ouro o último ano de colégio", comemora.
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